O dia 27 de outubro é, anualmente, dedicado à importância na prestação de serviços de saúde para a comunidade negra. Um levantamento feito pelo Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra) em 2019 revelou que 29,2% da população preta nunca esteve em consulta com um Cirurgião-Dentista ou não havia procurado um especialista há mais de três anos. Destes, apenas 21,7% tinham plano de saúde ou odontológico. Essas informações justificam a preocupação com o acesso desse grupo ao atendimento bucal.
Entre as pessoas pretas entrevistadas pelo Cedra, 34% tinham uma percepção negativa da própria saúde bucal. Apesar desse grupo ter maior tendência de desenvolver anemia falciforme (grupo de distúrbios que atingem os glóbulos vermelhos), podendo ter manifestações orais, se a pessoa tiver bom controle de higiene bucal ela terá uma boca saudável, explica a Cirurgiã-Dentista e membro da Câmara Técnica de Saúde Coletiva do CROSP, Dr. Patrícia Tozzo.
“É muito comum vermos propagandas ofertando muito o uso de escova e pasta de dente, mas pouco se fala de fio dental, que é tão importante quanto os outros instrumentos”, reforça ela, ao falr da higiene bucal.
Histórico social
Segundo o Cedra, essas estatísticas ficam mais evidentes quando comparadas aos números relacionados à comunidade branca. A pesquisa apontou que 20,1% dos brancos não buscaram o atendimento de profissionais em Odontologia e 40% possuíam plano de saúde ou odontológico até 2019.
De acordo com a Dra. Patrícia, existe uma carência de saúde bucal em território nacional devido às condições financeiras, que não atendem aos valores deste tipo de tratamento. Falando em possíveis ações políticas, a especialista ressalta que não basta ter somente um local de atendimento, apontando a diferença de suporte em cada cobertura, considerando que, em muitos dos casos, há falta de conhecimento das modalidades oferecidas. Ela relaciona, ainda, esse cenário com o histórico social das pessoas pretas no Brasil.
“Eu acredito que o acesso é pouco para a maior parte da população, em especial pessoas negras, pelo histórico e educação que o país tem. Por conta dessas condições, talvez essas pessoas não desenvolveram entendimento sobre o acesso de saúde que elas possuem.”
Educação e saúde
A cárie, que é um dos principais problemas bucais no país, não tem variação conforme a etnia, mas está relacionada aos costumes do indivíduo. Nos casos envolvendo crianças, as doenças geralmente são consequências da educação entregue pelos pais, que em muitos casos, também não tiveram este tipo de orientação.
“As doenças bucais são acumulativas. Essas pessoas, principalmente na fase adulta, passam a notar a evolução no acumulo de cárie e perdas dentárias, afetando a alimentação e estética. Se não houver conhecimento, não há tratamento preventivo.”